Cruzeiro Brasil–Angola refaz rota histórica do Atlântico em viagem de memória e reparação

Um navio de cruzeiro partirá do Rio de Janeiro rumo a Luanda, em Angola, no dia 5 de dezembro de 2025, para uma viagem que inverte o trajeto percorrido há mais de três séculos por milhões de africanos escravizados. Batizado de “A Grande Travessia: o Retorno, o Reencontro, o Reconhecimento, a Reparação”, o projeto é idealizado pelo antropólogo e professor doutor Dagoberto José Fonseca, da Unesp de Araraquara, e propõe um percurso de turismo de memória entre Brasil e África.

A viagem, que será gratuita para cerca de 2 mil participantes, reunirá artistas, educadores, empreendedores, religiosos, agentes políticos e comunicadores em uma programação voltada à troca de experiências e ao reconhecimento histórico da diáspora africana. “Será a primeira travessia atlântica nessa rota em mais de 170 anos de nossa história social, considerando que o tráfico transatlântico de pessoas escravizadas de Angola para o Brasil cessou oficialmente em 1850”, afirma Fonseca.

Durante o trajeto, o navio sediará cursos, oficinas, fóruns e apresentações artísticas. As atividades abordarão temas como relações culturais e históricas entre Brasil e Angola, turismo afro-referenciado, saúde da população negra, capoeira de Angola, artes visuais, música e religiosidade afro-brasileira. Parte da programação também ocorrerá em território angolano, com homenagens e encontros entre representantes dos dois países.

Para o idealizador, a iniciativa tem caráter simbólico e educativo. “Com essa iniciativa, nós objetivamos retomar esse itinerário, onde ocorreu um crime de lesa humanidade, para referenciar os que construíram o Brasil, os que deixaram Angola, mas sobretudo também relembrar, reparar e render homenagens àqueles que saíram de Angola e não chegaram ao Brasil. Para além disso, queremos também que esse projeto de longo prazo seja a reinauguração do trânsito de pessoas do Brasil para Angola e vice-versa de maneira digna, humana e fraterna”, destaca.

O projeto integra o programa “Reconhecer, Reparar, Religar para Seguir: memória e história dos nossos – mundo atlântico e em terra firme”, que também prevê a digitalização de documentos do tráfico de pessoas escravizadas mantidos por arquivos públicos do Brasil e de Angola.

A escolha da data coincide com os 50 anos da independência de Angola, celebrada em novembro de 2025. O Brasil, primeiro país a reconhecer a independência angolana, volta agora a reforçar seus laços históricos e culturais com o continente africano. “Neste primeiro momento, o inaugural e profundamente identitário, cultural, educativo, político e diplomático, com essa travessia e com uma população negra majoritária e seus antepassados de origem Bantu e de Angola, o Brasil retoma as relações marítimas com Angola tendo uma maioria negra no navio”, completa Fonseca.

O projeto conta com o apoio de ministérios brasileiros, universidades e instituições públicas e privadas de ambos os países. A retomada dessa rota, afirma o professor, pretende consolidar um novo ciclo de cooperação cultural, econômica e diplomática entre Brasil e África.

Serviço: A Grande Travessia – o Retorno, o Reencontro, o Reconhecimento, a Reparação
Data: 1º a 21 de dezembro de 2025


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