O Coletivo Barramar, da Barra do Ceará, em Fortaleza, é um dos representantes do Nordeste no 3º Encontro Nacional do Projeto Coletivos Periféricos, promovido pela Fundação Abrinq, no dia 25 de outubro, em São Paulo. O evento, que ocorre no Centro Cultural do Grajaú, reúne coletivos e especialistas para discutir os desafios e potências das periferias brasileiras, com foco na defesa dos direitos de crianças e adolescentes.
Criado em 2018, o Barramar surgiu a partir da iniciativa de jovens da comunidade que decidiram usar a arte e a cultura como ferramenta de transformação social. “O coletivo surge idealizado pelo jovem Kalil (DJ Kalil Laion), que consegue visualizar as potências presentes no território e decide promover eventos de reggae”, contou Leandra Costa, uma das representantes do grupo. “A partir disso, passamos a desenvolver ações voltadas às crianças e adolescentes, como saraus, festivais, oficinas, círculos de leitura, oficinas de trança, atividades de capoeira e outras atividades como artesanato.”
Hoje, o coletivo atua de forma contínua no território da Barra do Ceará, oferecendo oficinas, rodas de conversa, mutirões e atividades culturais gratuitas. Em parceria com instituições como o SESC, promove também ações voltadas à família, incluindo cine debates e passeios culturais. “A gente entende que esse direito de brincar e ocupar os espaços da cidade é essencial. As crianças percebem que têm esse direito e que pertencem à cidade”, afirmou Leandra.
Entre as iniciativas recentes, o coletivo realizou o projeto “Barramar Hip Hop Vive”, que levou grafiteiros de Fortaleza para retratar, nos muros do bairro, as próprias crianças participantes do projeto. “Foi uma ação muito simbólica, porque as crianças puderam se ver retratadas e representadas. A gente destaca muito a importância de se ver nesses espaços, de valorizar nossa beleza e nossa cultura”, disse.
A participação no encontro nacional, segundo Leandra, representa um reconhecimento do trabalho construído de forma independente na periferia. “É um espaço de conquista. A gente entende o quanto é difícil se manter de pé diante de muitas pelejas do dia a dia, então estar nesse evento mostra que o nosso trabalho está sendo reconhecido. É poder dizer que aqui, na Barra do Ceará, tem uma arte que pulsa e uma juventude potente”, afirmou.
Durante o encontro, o coletivo participa do lançamento de publicação conjunta entre os coletivos, que reúne relatos e práticas de grupos de todo o Brasil. Para Leandra, a troca de experiências com coletivos de outros estados fortalece o trabalho local. “A gente caminha com muitas mãos. Essa conexão é importante porque a nossa luta é semelhante: a de reivindicar nossos direitos, de fazer a arte chegar e de ouvir nossas vozes”, ressaltou.
Mesmo com os avanços, Leandra destaca que o coletivo ainda enfrenta desafios, especialmente na falta de políticas públicas permanentes que reconheçam e apoiem iniciativas comunitárias. “As gestões precisam dialogar com quem faz arte e cultura de forma independente. Muitas vezes a gente faz o trabalho que deveria ser feito pela gestão, e falta esse impulso, esse reconhecimento”, pontuou.
Com atuação voltada à infância, adolescência e cultura afro-brasileira, o Barramar representa, no encontro nacional, as vozes e experiências da periferia litorânea de Fortaleza. “Acreditamos nas nossas crianças e jovens. Levar o nome do coletivo para São Paulo é também abrir caminho para quem está chegando, é mostrar que o nosso território produz arte, resistência e transformação”, concluiu Leandra.
Por Hyago Felix

