A Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), da Universidade Federal do Ceará (UFC), realizou a primeira mastectomia de afirmação de gênero no Estado. A operação foi realizada via Sistema Único de Saúde (SUS).
A cirurgia consiste na retirada das mamas em homens trans. Ela foi viabilizada por meio de contratualização entre a instituição e a Prefeitura de Fortaleza.
A iniciativa prevê um procedimento por mês em pacientes acompanhados pelo Serviço Ambulatorial Transdisciplinar para Pessoas Transgênero (Sertrans). A medida representa um avanço na consolidação de uma rede pública de apoio e acolhimento à população trans.
Primeiro, o paciente deve buscar atendimento na unidade básica de saúde (UBS) mais próxima de sua residência e solicitar o encaminhamento para o Ambulatório Sertrans, que o acompanhará e o destinará para a realização da mastectomia na Maternidade-Escola.
“Foi uma grande conquista termos, finalmente, um serviço que ofereça esta cirurgia na rede pública”, ressaltou a chefe do Serviço de Mastologia da Meac, Milena Holanda.
A especialista explicou que a mastectomia masculinizante é uma das etapas finais do processo de transição de gênero. O paciente precisa ser maior de idade e atender aos critérios estabelecidos pelas diretrizes médicas para realizar a cirurgia.
“O paciente passa por uma consulta com a médica mastologista do serviço, onde é feita a avaliação para a cirurgia. Nesse momento, discutimos todas as etapas do processo cirúrgico – cuidados, riscos – e alinhamos expectativas. Ele permanece conosco até receber alta do ambulatório, quando já realizou a cirurgia e está apto a retomar suas atividades cotidianas”, descreveu.
Segundo a mastologista Cristiane Coutinho os cuidados após a cirurgia se concentram na manutenção do dreno, na cicatrização e na observação do enxerto da aréola. Esta é uma das partes mais delicadas do procedimento.
Ela que realizou a cirurgia junto a Milena Holanda e a Rute Melo, residente em Ginecologia e Obstetrícia da Meac.
Cristiane Coutinho reforçou a importância do SUS oferecer o procedimento. Especialmente para aqueles que não têm acesso a plano de saúde ou condições financeiras pagar os custos na rede privada.
“É gratificante ver a emoção deles ao acordar da cirurgia e passar a mão no tórax masculino, sem aquele volume que tanto os incomodava”, destacou.
Inclusão
A realização da mastectomia transexualizadora foi destacada pelo gerente de Atenção à Saúde, Edson Lucena, como um marco de cuidado, respeito e inclusão.
“Mais do que uma cirurgia, é um passo afirmativo no reconhecimento da identidade de uma população historicamente marginalizada e que enfrenta inúmeros obstáculos no acesso à saúde.
A Meac, ao ofertar esse cuidado, reafirma seu compromisso com a equidade, a diversidade e os princípios do SUS”, afirmou.
O gerente também enfatizou a importância de um serviço público que acolha com dignidade, reforçando uma assistência integral e livre de preconceitos a todas as pessoas.
Arthur Gael Lima, de 29 anos, foi o paciente beneficiado por este procedimento e compartilhou o que sentiu ao se ver, pela primeira vez, após a cirurgia.
“A sensação de tirar uma foto e não ver mais os seios que não condiziam com quem eu sou… Agora eu posso ficar sem blusa. Eu me senti muito livre”, contou.
O paciente chegou ao Serviço de Mastologia da Meac no dia 24 de fevereiro deste ano, já encaminhado pelo Sertrans, ambulatório mantido pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), que oferece assistência multidisciplinar às pessoas trans.
Ele também relatou a qualidade do atendimento recebido em todo o processo. “O suporte foi todo pelo SUS. Me senti melhor atendido do que em clínica particular. Fui acolhido desde o início por uma equipe muito empática”, garantiu.

