Quadrilha Quilombola Afrojunina leva narrativas e tradições negras para as festas juninas do Ceará é reconhecida como Ponto de Cultura Nacional  

No arrasta-pé do São João, mas sem esquecer a resistência dos antepassados e das lutas sociais. A Quadrilha Quilombola Afrojunina, da Comunidade Quilombola da Base, situada em Pacajus/Ceará, foi certificada pelo Ministério da Cultura como Ponto de Cultura Nacional. O reconhecimento vem da contribuição sociocultural e fortalecimento do pertencimento étnico-racial do grupo por levar narrativas e elementos das tradições negras e quilombolas para o espetáculo junino.

Há 22 anos, a comunidade quilombola da Base põe seu grupo junino no salão, antes intitulado Explosão Junina, a partir de um diálogo comunitário sobre a importância do reconhecimento e pertencimento étnico-racial quilombola, o grupo passou a se denominar Quadrilha Quilombola Afrojunina, em  2022.

O grupo envolve o público com suas apresentações repletas de cores, alegria e repertório com empoderamento negro e quilombola,  presentes nas histórias, músicas danças e na inclusão de outros elementos afroculturais em suas apresentações como a capoeira, o maracatu e o maculelê.

Foto: Thuanny Alboquerque
FOTOS: Thuanny Alboquerque

Memória e tradição 

A apresentação deste ano é em homenagem a um importante membro da comunidade, Mané Caboclo,  responsável pelas festas de forró que reunia toda a comunidade. “Mané Caboclo, quilombola da nossa comunidade era quem fazia as festas de forró na casa dele e em espaços organizados por ele. Esse forró acontecia com os coletivos da Base. E nesse forró nós vamos apresentar a história de todos os coletivos da Base. Mostramos a Arte Quilombola, grupo de capoeira e maculelê, Grupo de teatro BasArt, que traz a história das  mulheres artesãs da comunidade e da Quadrilha Quilombola Afrojunina”, explica Jonathan Melo, coordenador de ações sociais da Afro Junina.

Narrativas próprias

Ter narrativas próprias e usar o São João para celebrar a luta de grupos e pessoas importantes, além de fazer a crítica social sobre questões que a população negra e quilombola enfrentam, é o que coloca a Quadrilha Quilombola Afrojunina dentro desse cenário nacional cultural, reconhecida no último dia 24 de junho, pela Secretaria de Cidadania e Diversidade do Ministério da Cultura. 

“Nosso papel enquanto quadrilha não é simplesmente dançar no São João, é fazer a apresentação da nossa história. É comum alguns grupos trazerem histórias fictícias para as apresentações, mas a gente traz personagens reais, conta sobre a nossa história e faz críticas sociais. Hoje somos reconhecidos como ponto de cultura nacional, um dos mais importantes de Pacajus, por ser dentro de uma comunidade quilombola. E estamos nessa luta toda a vida para movimentar e dar destaque à nossa cultura”, conta Jonathan Melo.

Pautas sociais

O  grupo junino quilombola aproveita o momento de visibilidade e atenção das apresentações juninas para passar importantes mensagens. A Afrojunina já levou para o arraiá a lei n º 10.639, sobre a implementação da história e cultura afrobrasileira nas escolas. A afrojunina também fez o reconhecimento de lideranças negras femininas na luta antirracista, trazendo a história de luta de Dandara dos Palmares e Marielle Franco. 


Descubra mais sobre Igbá Agência

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.